sexta-feira, 23 de março de 2012

Somos todos exilados

Nesta Lisboa que não para, onde há tão poucas casas amigas sinto-me sempre exilada. Já me relaciono com a cidade faz uns bons 22 anos. Estudei cá. Trabalho cá. Vivo cá.
Mas o homem do talho não é meu amigo, embora seja correto e simpático. Cabeleireiro só ao pé do emprego. Os merceeiros roubam-me descaradamente.

E não há ninguém para visitar!
Sim, eu tenho amigos, preciosos em todas as horas, mas parece-me que o código desta cidade não se compadece com visitas inesperadas. A malta não aparece em casa uns dos outros sem avisar, até porque muitas vezes não há ninguém em casa.
A minha safa são os convites que faço para jantar. Mas o meu marido entra em stress com as "invasões" (ele é Lisboeta) e eu fico assim-assim sem saber o que fazer.

Onde é a minha casa, afinal?
Onde pertenço? Quem é a minha tribo? Há por aí uma comunidade de gente de porta aberta? Ou vamos ficar cerrados nos nossos quartéis, dia após dia, com medo uns dos outros?

Vou contando as minhas bençãos, as poucas relações que tenho alimentado, planeando a minha reforma quando finalmente vou ter uma casa na aldeia da minha infância. Ou lá perto....

Será que lá vou sentir-me diferente? ou sou refugiada dentro de mim? ou mesmo de mim?

E as minhas primas estarão lá nessa altura?

Escrevo para vós , sem saber que sois, escrevo ao vento porque acredito que na partilha dos sentimentos vêm as respostas e sei também que em alguma hora tenho que ser real comigo. Rasgar os véus e olhar o espelho da minha tristeza. Ver as lágrimas. Acolhê-las como a uma gargalhada e seguir...

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